Pedimos desculpas à leitora por não termos atualizado tanto este site (a última atualização foi a meses). Você pode imaginar as dificuldades de fazer esse tipo de projeto funcionar, e acaba que fazer blog-posts não entra exatamente como uma das prioridades principais (mas nós vamos mudar isso!).
Tivemos várias experiências interessantes desde a última postagem e pretendemos ir falando sobre elas aos poucos. Hoje, falar-lhes-ei mais sobre as dificuldades.
A dificuldade número 1 é conseguir fazer com que os (e as) jovens participem. O projeto é realizado nas dependências da escola, na Escola da Família, e as crianças vão se quiserem e quando quiserem. No horário em que realizamos o projeto (às 10h da manhã), vão mais meninos do que meninas (às vezes elas vão, mas pouco), o que significa que o projeto, inadvertidamente, atinge mais meninos do que meninas. Mas, mesmo dos (e das) que vão, geralmente, vão para brinca, jogar futebol, correr, e demais atividades de crianças, não estando, no geral, muito dispostas a participar de um projeto de matemática.
Pela nossa experiência, é mais fácil convencer crianças mais jovens (na faixa de 7 a 9 anos) a participar. Na verdade, muitas vezes (para nossa agradável surpresa), essas crianças já gostam de matemática (lembre-se que fazê-las gostar de matemática é um dos nossos objetivos principais) e não têm muitos impedimentos quanto a tentar resolver um problema, ou a seguir uma explicação. Já as crianças mais velhas do que 9 anos costumam ter algum tipo de bloqueio, chegando, às vezes, a ter medo de matemática.
Um problema é que os jovens vão quando querem e se querem. Existem alguns que costumam ir mais vezes, mas, mesmo esses, muitas vezes não vão ou vão mais tarde, o que dificulta a evolução do projeto. Não conseguimos avançar muito para tópicos mais complexos porque não conseguimos construir uma base, porque não conseguimos construir um tipo de núcleo de estudantes interessados, que podemos contar que vão ir sempre ou quase sempre. Assim, dificilmente conseguimos lidar com tópicos com mesmo poucos prerrequisitos.
A isso se soma outra dificuldade, nomeadamente a da nossa inexperiência. “Círculos Matemáticos” é uma ideia diferente e nova para eles, o que costuma gerar um bom interesse inicial, levando-os a participar. Mas, se a criança participa e não gosta da experiência, pode ser difícil trazê-la de volta. Para que não experimentemos isso, no nosso contexto, é preciso que os organizadores tenham não só uma boa didádica e clareza do que passar e não passar, mas também uma sensibilidade, dinamicidade e habilidade de tomar a iniciativa que ainda precisamos desenvolver melhor. Devido, não só a isso, mas também a isso, algumas crianças participaram da experiência algumas vezes e não quiseram voltar mais.
Foi sugestão de algumas pessoas do grupo achar uma forma de “obrigar” a criança a participar (talvez falando com os pais, ou dando algum tipo de compensação), ou mesmo de realizar pressão emocional para tanto. Mas, depois de conversar sobre, concordamos (ou parecemos concordar, ao menos) que esse é um caminho perigoso que tem pouca, se alguma, chance de dar certo.
Devido a esses e outros fatores, no último sábado de Setembro, fomos (dessa vez, três de nós, (eu) o Éricles, a Helen e o João) para a escola e, ao procurar crianças que quisessem participar do projeto, não encontramos sequer uma. Haviam crianças na escola, mas mais preocupadas em jogar futebol e sem interesse no que tínhamos a lhes falar (há de se notar que, em condições normais, já é difícil para uma criança ver o valor que nós vemos na matemática). Realizamos, então, um trato com as crianças presentes: jogamos futebol com elas e, se ganharmos, elas participam do projeto; se não, não. Concordamos em marcar 15 minutos para o jogo. Ao acabar do tempo, empatados, começou-se uma discussão: eles queriam que continuássemos jogando e, quem fizer o primeiro gol venceria. Nós queríamos seguir o modelo usual de pênaltis, e por um bom motivo: meus pés já estavam machucados e o João estava extremamente cansado (a Helen foi substitúida por um monitor da escola que estava presente, e estava bem), tornando a continuação do jogo difícil (mais difícil ainda seria a vitória). Ganhamos nos pênaltis, mas eles não aceitaram participar. Sem ter o que fazer, fomos embora da quadra.
Ao sair, a diretora foi conversar conosco, no que descobrimos que várias das crianças envolvidas (e ao menos uma das não envolvidas, mas que havia participado de algumas de nossas atividades) tinham uma história familiar um tanto complicada, incluindo pais presos e irmãos viciados em drogas. Ela mencionou já não ter esperança quanto a vários deles.
Ficamos sem saber bem o que fazer. Continuamos o projeto no mesmo modelo? não parecia estar dando certo. Se não continuamos, mudamos como, ou o que?